quarta-feira, 28 de julho de 2010

Manifesto Surrealista

Escrito por André Breton, em 1924.
Acesse e leia-o na íntegra para enriquecer nossa discussão.

"Só o que me exalta ainda é a única palavra, liberdade.
Eu a considero apropriada para manter,
indefinidamente, o velho fanatismo humano."

Biologia, Português, Arte ou o quê?!?!

Veja o vídeo e comente a sua montagem.
Nele, há o poema Mapa de Anatomia: o olho, de Cecília Meireles,
imagens diversas e a música É isso aí, de Ana Carolina.


segunda-feira, 26 de julho de 2010

Aula inaugural - parte IV

JULGAMENTO

Acredito na importância desta obra, por se tratar de um tema que ainda aflige a todos nós. A falta de tempo de pararmos para observar o que se passa ao nosso redor e ou de simplesmente desfrutarmos com tranquilidade um momento de lazer dedicado a reflexões pessoais ou nem mesmo isto, apenas fazer uma pausa. Coisa difícil nos dias de hoje, pois somos atropelados diariamente pelos afazeres.
Na verdade nunca saberemos por que Dalí pintou esta obra, mas poderemos levantar inúmeras hipóteses acerca do que está representado como: a) Quis apenas retratar sua irmã, que tanto gostava de apreciar a paisagem? b) Precisava aperfeiçoar sua representação de corpos femininos e suas curvas sinuosas? c) Queria aproveitar e registrar um lindo dia de verão em Barcelona, o que é raro em países europeu? d) Explorar o espaço compositivo e possibilidades com o uso poucos elementos estruturantes? Registrar os poucos momentos de paz e tranqüilidade (férias) de uma Barcelona agitada já em 1925? Pintou como prenuncio do que estaria por vir (surrealismo), atirando-se num mundo fantástico de sonhos e ilusões? Nunca saberemos ao certo.
Enfim, cada um poderá levantar suas próprias opiniões do porquê o artista pintou uma moça a observar uma paisagem através de uma janela aberta.
Os motivos que levam uma pessoa a querer ver ou ter uma obra como esta depende de questões pessoais envolvendo inúmeras variáveis, até mesmo culturais ( o quadro é bonito e combina com minha personalidade (gosto)? A obra me acalma, transmite paz? Faz recordar algo que tenha sido muito significativo para mim? Sou amante de paisagens e de Dali? Dá status podendo ser um excelente investimento? Sou estudiosa e conhecedora do ramo, sei valorizar suas qualidades estéticas e históricas? Aprecio e busco na arte compreender o mundo e a mim mesma?).
Podemos encontrar outras obras semelhantes às encontradas em Moça de pé na janela, uma delas é Mulher na Janela em Figueiras, do próprio pintor, um ano após com a mesma modelo (sua irmã). Além disso, sugiro três imagens logo abaixo, onde convido a outros olhares para encontrarem semelhanças e diferenças (tema, técnica, estilo, época, cores, linhas, formas, espaço, proporções, luminosidade, textura, movimento, ritmo, volume, etc.) com a obra em questão.

sexta-feira, 23 de julho de 2010

Aula inaugural: parte III

INTERPRETAÇÃO

O artista me sugere que em algum momento em nossas vidas (rotina) temos que parar para apreciar, simplesmente contemplar o que muitas vezes está próximo a nós e muitas vezes não se dá conta pelas tribulações do dia a dia. Mesmo tendo que deixar o pano de prato de lado por alguns minutos.
Esta obra é tudo de bom, pois quem não gostaria de parar e dar uma espiadela pela janela em um dia de verão às margens de um rio em Barcelona? Eu adoraria, pois gosto mais de observar do que de falar. Meu sonho de consumo é um apartamento com sacada só para apreciar a paisagem! Gosto também deste sossego de estar só, o que para muitos poderia caracterizar solidão. Mas eu aprecio estes momentos de pensamentos e reflexões individuais.
Mesmo sendo um ambiente interno, ele retrata-o bastante claro, com sombras que deixam a moça pensativa e elegante.
A moça aparenta ter uma personalidade calma por sua postura flexível inclinada para frente. O contrário, com os dois pés no chão em postura ereta poderia caracterizar tensão ou rigidez. Poderia ser talvez um pouco ansiosa se estiver esperando alguém chegar e não sendo muito magra sua silhueta revelam que pode estar se alimentando elem da conta o que reforçaria um comportamento de ansiedade.
Sua posição revela que está disposta a permanecer na janela por algum tempo sem pressa alguma.
Em nossa língua há inclusive uma expressão que diz “estar à toa”, ou “ver a banda passar”, como diria Chico Buarque, referência inevitável a essa lembrança. Apreciem o vídeo sugerido e comparem.
Outra sugestão interdisciplinar é com o texto “Mar português”, de Fernando Pessoa (parte X de seu longo canto à Portugal e suas glórias).
Estas obras tem muito a ver com minha vida, já que escolhi ser professora de arte logo tenho muito a observar e observar!
Voltando à tela, ao olhar fixamente por algum tempo sobre esta obra tenho sentimentos de tranquilidade, paz e nostalgia. Há uma energia e vibração causadas não só pelas linhas e também pelas cores, que requerem uma interpretação especial por sua simbologia.
O amarelo, cor da eternidade, amplo e ofuscante, é expansivo dando conta da permanência da moça em órbita.
O azul, como é bastante profundo, nosso olhar o penetra sem encontrar obstáculo e perde-se no infinito da paisagem; além de ser a cor dos mistérios da alma. Causa a impressão de desmaterialização, como algo que se transforma de real em imaginário.
Diante do azul, a lógica do pensamento consciente cede lugar à fantasia e aos sonhos que emergem do abismo de nosso mundo interior, abrindo as portas do inconsciente. Por sua indiferença, frigidez, impotência e passividade, aguda, que fere, ele atinge o clima do inumano e do supra-real. Acalma e tranquiliza para a purificação e busca a verdade interior. Pode exprimir distanciamento e aproximação.
Não é preciso dizer mais nada dos motivos que levaram Dalí a abusar desta cor fantástica. Tanto azul assim só poderia sugerir mesmo esta entrega incondicional.
O roxo com sua lucidez, a ação refletida, o equilíbrio entre o céu e a terra, os sentidos e o espírito, a paixão e a inteligência, o amor e a sabedoria mantém a moça ora entregue a paisagem, ora presente no ambiente Em tons claros, é alegre. Neste caso, o violeta, cor da alquimia e da magia; cor da espiritualidade, da intuição e da inspiração; cor de energia cósmica é símbolo da transformação e profundidade dá a Dalí inúmeras possibilidades de criação e, a nós, de imaginação.
Marrom ocre mostra a humildade, representa a estabilidade sólida e segura uma natureza rústica definidas com suas pernas e tábuas do piso.
O branco sugere o nascimento ou uma ressurreição. Sendo a cor da pureza inocência, verdade, esperança, felicidade e paz, age sobre nossa alma, como o silêncio absoluto. Funciona como luz, podendo simbolizar a candura e a claridade.
O aparecimento do preto indica a privação ou ausência de luz. Psicologicamente, encarna a profundeza da angústia infinita, em que o luto aparece como símbolo de perda irreparável. É o símbolo maior da frustração e da impossibilidade. Com a mistura do preto e o branco o cinza ameniza o peso do preto na tela dando elegância, humildade, respeito e sutileza a moça e reverencia a paisagem.
Acredito que sim não importam os motivos ou intenções que levaram esta moça até a janela, é da natureza humana o desejo de repousar procurar tranquilidade, observar, sonhar, refletir ou não fazer nada.
Antigamente o interior das casas era pintado com cores diferentes além do branco gelo e hoje estamos voltando a colorir o interior apenas uma parede com uma cor mais forte. Outras diferenças de época chamam a atenção, como o pé direito e a espessura da parede, o modelo da janela assim como a limpeza geral no ambiente e na paisagem. O pano branco e a roupa e o sapato claro denotam asseio rigoroso do passado, assim como a limpeza do rio coisa rara em nossos dias! Logo, a diferença está na falta de um pouco de poluição.
Uma semelhança é que a moça não aparenta riqueza e sim humildade, fato importante para um bom paciente sonhador.
A modelo (corpo arredondado) é bastante semelhante a muitas donas de casa ou jovens que moram com os pais e até mesmo só, sem o excesso de vaidade ou por puro sedentarismo acabam ganhando alguns quilinhos.
Certamente Dalí teria que pintar o mesmo tema se vivesse entre nós, reforçando os laços afetivos entre familiares, humanizando as relações, já que a afetividade entre irmãos anda em baixa. O olhar cada vez mais solicitado pelo bombardeio de poluição visual acrescido pelo imediatismo das tecnologias, além da agitada e complexa vida contemporânea; mais do que nunca é hora de parar para ter condições de seguir com segurança.
A vontade de parar, observar, sonhar, não deve ser mudada, deve ser mantida; o que devemos ter é a consciência de quando, onde e como fazê-la.
Com esta mesma consciência poderíamos enfrentar os problemas de ansiedade, poluição em todos os sentidos (ambiental, visual, sonora etc,) o acúmulo dos afazeres da vida contemporânea.
Certamente a arte pode e muito contribuir para a percepção, sensibilização e conscientização de indivíduos desatentos e ou alheios aos problemas pessoais, assim como os da atualidade, tornando-os mais críticos e humanizados.
Quanto ao contexto histórico, é sempre bom lembrar que em 1924, o poeta André Breton publica o Manifesto Surreslista. A obra poderia ter outra conotação se levarmos em conta o ano de 1925, data de início do facismo de Benito Mussolline, na Itália.
Surge tambem na Alemanha a Nova Objetividade, estilo que propõe uma fotografia realista em reação ao pictorismo. Entre 1925-1926, Walter Gropius projeta e constrói o prédio da escola Bauhaus, na Alemanha.

quinta-feira, 22 de julho de 2010

Aula inaugural: parte II

DADOS DE IDENTIFICAÇÃO DA OBRA

Moça de pé na janela é uma pintura naturalista, óleo sobre tela (103 cm x 75 cm), pintada por Salvador Dalí no verão de 1925, sendo originária da Espanha, onde o pintor retratou sua própria irmã Ana Maria, tendo ao fundo a cidade de Cadaques. Tela esta exibida como parte da primeira mostra individual do artista na Galeria Delmau - Barcelona. Atualmente, encontra-se no Museu de Arte Contemporânea em Madri (Espanha).

ANÁLISE

O movimento está presente de modo visual no caimento e leveza dos tecidos da cortina assim como na ondulação da água do rio e no deslocamento do quadril.
Apesar da obra, destacar a amplitude e profundidade da paisagem, causadas mais pelo efeito da cor que pela discreta perspectiva com direito a reflexo na janela, não foi suficiente para ser considerada como elemento central.
Podemos dizer então que uma figura humana do sexo feminino seja o elemento central mesmo sem visualizarmos sua face. Vários são os fatos que assim a definem: se encontrar quase ao centro da obra em posição vertical que reforça sua presença, pois sentada ela desapareceria e causaria um enorme desequilíbrio a obra, ser o elo entre os planos, ser tema com direito a constar no próprio título.
O equilíbrio é assimétrico através da óptica conseguido pelo uso das cores e um simples detalhe de tecido branco na janela em oposição ao corpo da moça, o deslocamento do corpo para frente e a faixa cinza no horizonte da paisagem assim como o piso quente contribuem no equilíbrio da obra.
Assim como podemos dizer que o ritmo também presente de modo visual faz nossos olhos percorrerem toda obra sendo seduzidos pela mudança de cores, contrastes, formas e tamanhos assim como o posicionamento intencional de algumas linhas
O artista soube explorar as cores frias e quentes respeitando as dimensões e intenções da forma no espaço. Tanto que a prioridade na construção da obra é por elementos pictóricos e em especial o uso da cor explorando suas simbologias que requerem especial análise e posterior interpretação por sua significativa presença na obra.
O artista abusou do branco e roxo (violeta) assim como com o azul em diferente tonalidade e veremos por que logo mais adiante.
É incrível como o uso da cor quente amarelo ocre em uma pequena faixa na parte inferior da tela, o piso é capaz de dar o suporte necessário para que a moça não levite em seu sonho ou caia da tela pela redução do espaço; esta cor basicamente define o que é interior no ambiente arquitetônico.

quarta-feira, 21 de julho de 2010

Um olhar de Dali ou o meu sobre ele?!?!


Bom dia, alunos!


Estou retomando as postagens e atualizando arquivos que vocês lerão em breve como parte do material didático (que está uma gracinha, diga-se de passagem!) que preparei para meu retorno à sala de aula .

Separei em partes o texto da Aula Inaugural, que passo a postar de hoje em diante. Acompanhem e comentem, ok? bjs a todos

Aula Inaugural - parte I
LEITURA DE OBRA DE ARTE

DESCRIÇÃO

Trata-se de uma pintura óleo sobre tela, logo a obra é bidimensional (altura e comprimento), assimétrica por não apresentar lados iguais na divisão da tela ao meio; e figurativa em uma linha naturalista por representar o humano e a natureza (embora o pintor venha a ser surrealista).
O artista retrata uma cena sem interferir de forma surrealista, como em obras suas mundialmente conhecidas.
É possível identificar o interior de um ambiente arquitetônico reduzido a uma parede em alvenaria com piso e janela de madeira onde percebemos textura (rústico/aspereza). Observando o modelo da janela, a largura das tábuas do piso, a espessura e pé direito da parede podemos dizer que não se trata de uma construção moderna.
O ambiente é estruturado com uma linha reta horizontal que divide a parede em cor fria (violeta) e opõe-se ao piso quente (amarelo ocre) na parte inferior da tela, representando tábuas largas constituídas a partir da repetição de linhas retas paralelas em diagonais bem proporcionais dando assim uma leve perspectiva apenas para sustentar o corpo da moça.
Mesmo com o uso de poucas cores, a obra constitui-se policromática, fazendo uso de cores frias e quentes (primárias: amarelo, azul; secundária: roxo e terciária: marrom) com variações de tonalidades que vão do grave ao agudo a partir de misturas do branco em maior proporção (azul claro e violeta) e por vez ou outra o preto (amarelo ocre, e cinza) causando efeitos de claro/escuro (luz e sombra), além de proporcionar imensa luminosidade a obra e sensações de volume (roupas, pernas, cabelo, rocha, espessura da parede e janela).[1]
Sem nenhum mobiliário, apenas o corpo de uma moça na janela une os planos da composição, que são três de forma bem definida; sendo possível ainda subdividir o fundo em três menores planos que constituem o fundo da obra em uma paisagem predominantemente clara. Com esta subdivisão os planos somam cinco.
Nesta paisagem percebemos apenas uma imensidão de água e céu, não sendo possível, afirmar se tratar de um rio ou mar requerendo uma breve pesquisa, para somente após afirmar se tratar de um rio de Barcelona. Nela o horizonte é marcado com uma estreita faixa que divide céu e água (formando dois retângulos em tons de azul claro) com linha reta horizontal e diagonal formando uma barreira ou passarela para o rio, rochas com devido volume e textura além de casarios em tonalidade de cinza o preto e branco. Uma discreta perspectiva conduz o nosso olhar a um ponto de fuga bem ao centro da paisagem, reforçado pelo posicionamento quase imperceptível e diagonal do pequeno barco de vela branca.
Uma enorme janela retangular de madeira com cinco lâminas de vidro de lisa textura se encontra aberta para o lado de dentro em perspectiva reflete a paisagem ocupando quase todo espaço superior e central da tela. Sendo ainda três lados da janela (superior/laterais) contornados por uma cortina aberta com listras verticais em tons de azul saindo do teto com leveza e transparência sem porém balançar ao vento que parece o ar estar parado.
A moça em pé, de costas, debruçada sobre a janela não permite descrições e análises de sua face. Porém, seu corpo farto, de curvas realçadas pelo uso de saia até o joelho colada ao quadril, blusa até o quadril com manga curta em tons de azul claro e branco em listras verticais mais largas que as da cortina em tecido aparentemente mole e leve está em contraste com a pele bronzeada das pernas e com os sapatos claros e baixos como sapatilha. Tal descrição pode indicar não se tratar de uma adolescente até pelo fato de na outra extremidade do parapeito da janela (canto inferior esquerdo) se encontra um pano branco (pano de prato) largado como se aguardasse um afazer qualquer. Seu cabelo volumoso e cacheado nas pontas em espirais (como caramujos) encontram-se soltos, a coloração dos fios versam em preto branco e cinza em comprimento até os ombros. Seu corpo posicionado entre o meio e a direita da janela é sustentado com apoio sobre o pé esquerdo apenas a ponta do pé direito, onde podemos ver o solado do sapato. Com leve inclinação para frente apóia os dois braços sobre o parapeito largo da janela onde debruçada contempla a paisagem.
É possível ver sua assinatura e data no canto inferior a direita da tela sobre a parede.

[1] Observe-se para esta análise o livro Vida e Obra de Dali, o qual consta das referências ao final do texto e que pode divergir das cores visualizadas na imagem sugerida e retirada da internet.